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"Equador" de Sílvio Vieira: Um universo numa black box

Carlos Alves

9.07.2023


Equador

Criação de Sílvio Vieira

Co-criação e Interpretação: Anabela Ribeiro, Catarina Rabaça, Miguel Galamba, Miguel Ponte e Rita Cabaço

Produção: outro

Centro Cultural de Belém

em cena até 14 de Julho

Fotografia: Bruno Simão


Não é preciso ter visto Arena para agora ver Equador

mas

para quem esteve na Garagem do Chile, em 2021, a black box do CCB é um espaço de reencontro. Passaram quase dois anos e estamos de novo perante uns “autóctones”, agora quatro, a braços com a descoberta de tudo. Chegam do ar, aterram e a viagem continua, desta vez no CCB.

A transição do Chile para Belém não foi, contudo, violenta. Porque se agora é uma black box – e isso é repetido várias vezes... black box, black box, black spot... como um lembrete para assinalar o espaço -, não foram só os “autóctones” que vieram. Também veio a frieza da pedra e a frescura da água. Em Novembro/ Dezembro de 2021, na garagem, estava frio; aqui na black box a temperatura é controlada mas o som da água a escorrer manteve-se e é igual; o pequeno lago iluminado a âmbar não é igual mas conseguimos lembrar-nos do outro ao ver aquele e então fica quase igual (o que a memória faz!); e as pequenas ervas e arbustos agora são um pinheiro (acho que era um pinheiro...) alto.

Mas o CCB tem outras regras e tem empregadas de limpeza. Uma empregada de limpeza, que vemos, porque normalmente as empregadas de limpeza não se veem em lado nenhum, nem no teatro que é um sítio de ver. Aqui vemos uma empregada de limpeza, uma Rita Cabaço que faz uma grande viagem ao longo deste espectáculo. Que sorte tem a Rita Cabaço e que sorte tem o espectáculo! (Acho eu).

As criações do Sílvio Vieira – estas duas de que aqui falei – podem ser lidas à luz de grandes temas universais - também podem - mas pensar sobre isso é desfazer a magia. Não senti que os/as espectadores/as, ontem (8 de Julho, 21 horas), estivessem muito preocupados com temas universais, mas estavam presos a muitas acções desconcertantes a acontecer por segundo. E aos objectos!... Porque este espectáculo não é só espaço e pessoas, tem objectos que “falam”, que se movem sozinhos e que vivem, são objectos que fazem cena, são objectos actores. Isso então é mágico! (Acho eu).

Sabemos o que é que está acontecer ali e percebemos que isso não vai desaparecer da memória no dia seguinte (o Arena foi há quase dois anos e ontem lembrei-me de quase tudo), e isso é verdadeiramente universal. E isso é aquele universo.

Anabela Ribeiro, Catarina Rabaça, Miguel Galamba e Miguel Ponte são quatro actrizes/ actores entregues a uma estranheza; anularam a aprendizagem que se tem do comportamento humano e aguentam isso durante o tempo todo do espectáculo (que é uma coisa extremamente fácil quando se está a ver sentado numa cadeira).

A black box é uma questão, pelas vezes que é referida verbalmente e pela transformação que sofreu; mas foi, talvez, preciso alargar o espaço e é então que quase todo o edifício do CCB entra pela sala preta dentro. E, de repente, uma porta aberta e luz a vir de fora, porque uma coisa que começa numa garagem não se conforma com uma sala direita e bem comportada.

(Acho eu)

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